As paredes têm Ouvidos

“Sou um artista sonoro, o foco do meu trabalho são gravações de campo (“field recordings”), ou seja, gravação sonoras que se cruzam no meu caminho em vez de sons produzidos por músicos ou outros sons organizados. Os sons de que mais gosto são acidentais, não foram feitos com o propósito de serem gravados (como quando um músico toca num estúdio).

Comecei a interessar-me pela escuta e realização de gravações deste género quando comecei a viajar fora dos Estados Unidos. Na altura,já era músico e já me tinha gravado a mim mesmo, mas apenas com instrumentos normais.

Na minha condição de músico amador, e talvez por isso, prestava mais atenção àquilo que ouvia nos diferentes locais por onde passava e cheguei à conclusão que o mundo soa diferente em cada local.Aprendi que podia saber mais sobre um local se prestasse atenção aos sons que o compõem. A possibilidade de saber mais sobre a terra,animais selvagens e domésticos, animais de estimação, os tipos de trabalho das pessoas, o tipo de canções que cantam, a que soa a linguagem (mesmo quando não a compreendo) e como as pessoas falam umas com as outras…é um campo tão grande como aquele que nos oferece a visão, mas geralmente estamos tão distraídos a olhar que não prestamos atenção.

Quando viajamos torna-se mais fácil ouvir os sons que caracterizamos locais, e isto foi um motivo para eu viajar. Vivendo sempre no mesmo sítio habituamo-nos aos sons,este tornam-se familiares e começam a significar diversas coisas. Isto é positivo porque coloca o som na perspectiva da linguagem, mas tal como na nossa língua,esquecemos a sonoridade que lhe é própria e pensamos apenas no seu significado.

Assim, para mim, a sonoridade do português sobrepõe-se àquilo que está a ser dito ou à forma como se diz. Quando visito uma localidade nova como Nodar escuto-a de forma diferente das pessoas que lá vivem. Não a escuto “melhor”, obviamente. Ouço tudo de forma “fresca” durante algum tempo, até que se torna familiar. Começo por não saber o significado de muitos sons, mas vou prestando muita atenção àquilo ouço.”

Aaron Ximm, também conhecido como Quiet American, é um artista sonoro e fonógrafo. Realizou o seu primeiro trabalho a partir de gravações de campo no Outono de 1998 quando viajou através do Vietname. A música de Quiet American tem sido tocada em numerosos programas de rádio e estações de ‘streaming’ na Internet. Já foi entrevistado por inúmeras estações de rádio públicas e o seu trabalho já surgiu em críticas nas revistas de música experimental mais importantes. O seu projecto ’one-minutevacations’ teve destaque no programa ‘The Next Big Thing’ da estação WNYC e é regularmente citado em blogs e portais.

O projecto resultante da colaboração de Aaron com a sua mulher, “Annapurna: Memories inSound” recebeu o prémio ‘Director’s Choice Honorable Mention’ no ‘2002 Third Coast International Audio Festival’. A série de concertos ‘Field Effects’ que programou entre 2001 a 2005 foi premiada pelos jornais SF Weekly e San Francisco Bay Guardian. As suas gravações foram usadas em vários projectos como álbuns de Shuttle 358 e Noe Venable.

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