Ao abrigo da distância

Rui Catalão tem vindo a desenvolver um projecto teatral a que deu o nome “Ao abrigo da distância”. Tendo começado por ser um conjunto de crónicas a partir da experiência de confinamento, o artista apercebeu-se que na comunidade onde tem trabalhado nos últimos seis anos–Vale da Amoreira–mais de dois terços da população cresceu num contexto familiar em que um dos pais, ou até ambos, está ausente. Para a residência artística de Vouzela Rui Catalão decidiu manter o mesmo alvo de estudo: entrevistar a população local, e tentar perceber que tipo de histórias ocorrem, no que respeita a experiências em que os pais (a mãe, o pai, ambos) estiveram ausentes, mesmo que episodicamente: A causa da separação, o modo de vida que ela proporcionou e as consequências desse afastamento, tanto nas relações familiares, como na relação com a comunidade… O projeto terá a colaboração do jornalista Madiu Furtado na realização de entrevistas.

Rui Catalão é licenciado em comunicação social pela UAL, fez crítica de cinema desde a adolescência no Jornal de Sintra e foi jornalista, crítico de música e de literatura do Público, onde ainda colabora episodicamente. Também escreve uma seção mensal na revista GQ. Como dramaturgista colaborou com João Fiadeiro, Ana Borralho e João Galante, Miguel Pereira, Tonan Quito, Elmano Sancho, Diana Niepce, Mihai Mihalcea, Eduard Gabia, Manuel Pelmus, Mihaela Dancs, Brynjar Bandlien, Madalina Dan. Na área pedagógica, ensina um método de tomada de consciência e criação de narrativas a partir de experiências pessoais a que chamou “O jogo das perguntas difíceis”, de que resultaram, por exemplo, as oficinas de teatro “Agora faz tu”, assim como as peças que criou no Vale da Amoreira com um colectivo de jovens de origem africana que interpretam as suas próprias histórias, com narrativas da guerra, da vida no subúrbio e da diáspora africana: “E agora nós”, “Adriano já não mora aqui”, “Medo a caminho” e “A Rapariga Mandjako”.

Madiu Furtado Embaló (n. Bubaque, Guiné-Bissau, 1992). Deixou a Guiné-Bissau durante a guerra civil, quando tinha oito anos, e instalou-se com a mãe e os irmãos no Vale da Amoreira, onde viveu 16 anos. O pai ficou na Guiné. Foi jornalista do diário regional O Setubalense ecolaborou com o Observador. Tem o curso de Comunicação Social e marketing do Instituto Politécnico de Setúbal. Escreveu o romance “Um de nós”, sobre a comunidade africana da margem sul. É o autor dos textos de “Ao abrigo da distância”, a nova peça de Rui Catalão.