La Scatola

Objectos. Pessoas.

Objectos de pessoas.

Pessoas de outrora.

Pessoas próximas.

Recordações de pessoas falecidas.

Pessoas queridas.

A família. Os amigos.

Os parentes.

Os objectos contam histórias.

Coisas ditas e não ditas.

Objectos suspensos por fios.

Fragilidade humana.

O tempo.

O tempo que passa.

O tempo como espaço.

A morte como parte integrante da vida.

Uma casa velha ainda não abandonada.

Melancolia

Ordem e desordem.

Presença e ausência.

Sombra e luz.

Melodias felizes e tristes.

“La Scatola Nodar” foi uma performance/instalação “site-specifc” realizadano Centro de Residências Artísticas de Nodar (Portugal).Reuniram-se objectos pessoais antigos da antiga casa de uma tia do RuiCosta, uma casa de 1863, onde gerações inteiras viveram. Estes objectos estão imbuídosde uma grande carga emotiva não só por lá permaneceremhá muito tempo (e por isso se encontram carregados da energia de quemos utilizou) mas também pelo facto de relembrarem ao Rui o seu passado eespecialmente a sua infância.

Os objectos pessoais foram pendurados no tecto de um antigo palheiro poruma corda de nylon. Aparentavam, por isso, estar suspensos e a flutuar no espaço. Durantea performance, um microfone de contacto colocado no tectocaptava sons vindos do piso superior do palheiro. Os mesmos foram produzidos com o usode um copo de cristal e outros objectos encontrados nesse local(batatas, nozes, palha, etc.).

Através de parâmetros previamente defnidos, estessons foram captados,processados e misturados com sons pré-gravados pelo computador que produziu de forma“autónoma” uma composição em tempo real.

ACERCA DE LA SCATOLA

“La Scatola” é um projecto transdisciplinar, da autoria de Rui Costa e Manuela Barile, que explora a noção de confinamento em múltiplas abordagens e trabalha sobre a zona de fronteira entre o “eu” e o mundo exterior. ”La Scatola” (“A Caixa”, em Português), pode ser visto como um dispositivo narrativo que representa um espaço difuso entre o “dentro” e o “fora”, entre o “eu” e o “outro” no qual estão presentes múltiplas linhas de força de sentido contrário: manifestações sensoriais do corpo encarcerado/corpo protegido, visões distorcidas do mundo exterior, ansiedade, desejos, memórias.

Estas linhas de força são encaradas em termos puramente espaciais (“zona interdita”, “abismo”, “barreira”) mas também em termos de “fluxos energéticos” bidirecionais criados pela projecção sensorial e emocional no mundo exterior da individualidade encarcerada (dor, desejo, resistência, impotência, etc.) e da representação (idealizada, distorcida, difusa) desse mundo na mente e corpo do indivíduo enclausurado.

METODOLOGIA DE TRABALHO

Os diversos dispositivos utilizados no projecto foram organizados de forma a criarem situações de aparência enigmática, entre o familiar e o estranho, o vizinho e o distante. As imagens ou os objectos usados, na sua simplicidade e de puração, transformam-se num espelho capaz de fazer confrontar o espectador com as suas próprias memórias e a sua experiência individual. Este processo de depuração tem oobjectivo de abrir possibilidades metafóricas que não são meras ilustrações, para absorver o maior número de leituras possível,o maior número de associações.

Em “La Scatola”, os processos de interactividade e de “transcodificação” inerente à transmissão de informação entre os diferentes media utilizados (som, vídeo, performance, sensores), são deliberadamente levados a cabo de forma controlada, procurando não abafar a emotividade e a simplicidade desejadas, potenciando assim a capacidade de “revelação” dos elementos em jogo nas instalações/performances.

“La Scatola” envolveu diferentes fases de pesquisa e desenvolvimento, que iniciaram em Setembro de 2007, aliando dispositivos tecnológicos (hardware e software) e expressão artística de carácter performativo. Não se pretendeu incorporar objectos, imagem, som e movimento separadamente, mas sim pensar as suas relações recíprocas possíveis de forma contínua e indissociável.

OBRAS ARTÍSTICAS