Workshop

Sujar as Botas, Tocar o Real

Problematização e Desmistificação do Trabalho de Campo Artístico

Coordenação: Luís Costa (Binaural/Nodar)

21 e 22 Fevereiro de 2013 das 14h00 às 17h00
Local: Auditório do DECA, Universidade de Aveiro

Co-produção: Mestrado de Criação Artística Contemporânea | Departamento de Comunicação e Artes | Universidade de Aveiro

Existe hoje uma tendência crescente para artistas contemporâneos criarem obras de arte em ligação com aspetos específicos do real: paisagens, comunidades, etc., sendo que parece ser cada vez mais evidente que quanto mais “periférica” (culturalmente, socialmente, economicamente, geograficamente) é a comunidade, maior poder de atração exerce, nomeadamente sobre jovens artistas, na senda de projetos originais e socialmente empenhados, o que convenhamos pode, no limite, incorporar aspetos de um certo cinismo ou aproveitamento de pessoas “inocentes” quando estas não têm a noção das implicações últimas dos desejos do/a artista. O artista, ao colocar-se em interação com um contexto real para efetuar trabalho de campo criativo, representa ele mesmo um feixe de comunidades e, como tal, chega a um novo território com a sua carga de representações sociais: de origem, de prática, de ideologia, de valores, de aceitação da diferença, etc.

Há pois que tentar perceber as possíveis motivações, particularidades e tensões destes encontros improváveis, entre pessoas que muitas vezes pertencem a mundos totalmente opostos. Este workshop dirigido pelo presidente da direção da Binaural – Associação Cultural de Nodar, constituirá uma introdução reflexiva, teórica e problematizadora a questões ligadas ao artista contemporâneo enquanto pesquisador do real, em que algumas das suas metodologias se podem aproximar daquelas das ciências sociais, seja por via da escolha dos temas e grupos sociais, pela organização do trabalho de campo, pelo modo de documentar, pela forma de interação com as próprias comunidades ou, no limite pelas estratégias de resolução / modulação de conflitos e tensões com as próprias comunidades.

Luís Costa (1968). Presidente da direção e diretor educativo da Binaural/Nodar. Tem formação em Economia. Autor de textos de opinião, ensaios científicos e orador convidado em conferências e palestras de divulgação sobre artes sonoras e media, criatividade no espaço rural e desenvolvimento territorial. Desde 2006 que desenvolve projectos de documentação sonora e vídeo das regiões do maciço da Gralheira e da Serra do Montemuro. Realizou o documentário sonoro/vídeo experimental: “Onde nasce o meu Paiva?”, estreado em 2011 durante o Festival Paivascapes #1. Autor e coordenador do projecto educativo “Aldeias Sonoras”, o qual consiste no mapeamento sonoro de zonas rurais portuguesas. Enquanto artista sonoro, publicou na Edições Nodar em 2011 juntamente com o artista sonoro Inglês Jez riley French o CD “Sonata for Clarinet and Nodar”. Co-editou em 2011 também na Edições Nodar o catálogo retrospectivo e CD duplo “Três Anos em Nodar – Práticas Artísticas em Contexto Específico no Portugl Rural” e editou já no final de 2012, ainda na Edições Nodar, um livro de textos ensaísticos e entrevistas “Viver um Mundo Antigo: Textos de Arte e Território (2012-2008”).

O Mestrado em Criação Artística Contemporânea da Universidade de Aveiro, presentemente coordenado pelo Prof. Dr. Pedro Bessa, tem a duração de dois anos lectivos (4 semestres) e tem por objectivo equipar os formandos com uma prática, exposta no desenvolvimento de projetos, que reforce uma autonomia na concretização da obra e uma autoconsciência do ato criativo – essencial para uma praxis enquanto artista. O mestrado funciona como uma plataforma de interseção para as novas tecnologias e a arte contemporânea, um pressuposto de transdisciplinaridade que se revela na intenção de desenvolver, aplicar e aumentar o conhecimento e reflexão para as artes visuais.

http://mcac.web.ua.pt/

Cartaz_Seminario_Sujar_as_Botas_Tocar_o_Real_Grande_web

Foto de Manuela Barile para a Binaural/Nodar, Julho 2011.
Interação com habitante da aldeia de Nodar no âmbito de residência Artística de Gäel Segalen e Joachim Montessuis para o Festival Magaio Voicescapes.