MOROLOJA
Uma instalação vídeo de Manuela Barile
Galeria Santa Clara, Coimbra (PT)
De 7 de Fevereiro a 26 de Março 2009

A artista multidisciplinar Manuela Barile, membro do colectivo de artes media Binaural, apresenta uma instalação vídeo no âmbito de uma exposição colectiva na Galeria Santa Clara em Coimbra, patente ao público entre 7 de Fevereiro e 26 de Março 09. A exposição colectiva, intitulada “O Mistério do Narciso”, é curada por Olga Maia Seco e, para além da instalação vídeo de Manuela Barile, inclui trabalhos de pintura, escultura, instalação e vídeo de António Santos, Bruno Gonçalves, Ilídio Salteiro, Lília Catarina, Marta Castelo e Rita da Costa. A instalação apresentada por Manuela Barile intitulada “Moroloja”, foi concebida e realizada no Centro de Residências Artísticas de Nodar (S. Pedro do Sul) em Novembro de 2008 e consiste numa pesquisa visual e sonora da experiência simbólica e ritual do luto.

Informações adicionais:

Galeria Santa Clara
Rua António Augusto Gonçalves, 67
Santa Clara – 3040 – 241 Coimbra
Portugal

Tel. 239 441 657

Datas da exposição:
Todos os dias de 7 Fevereiro a 26 Março 09 das 14h00 às 02h00 (Sextas e Sábados das 14h00 às 03h00)

Inauguração da exposição:
Sábado 7 de Fevereiro às 17h00

 

MOROLOJA

Num hino a Demetra, Homero disse que quando a sua filha Perséfone foi raptada por Hades, o Deus do submundo:

“Uma dor aguda tomou-lhe o coração e ela rasgou com as próprias mãos o véu que envolvia os seus cabelos divinos. De ambos os ombros arrancou o seu manto escuro e atirou-se como um pássaro selvagem sobre a terra firme e sobre o mar, procurando a sua filha. Mas ninguém lhe queria contar a verdade, nem entre os deuses nem entre os homens mortais; e nem entre os pássaros um verdadeiro mensageiro veio até ela. Então, durante nove dias a soberana Demetra vagueava pela terra, com tochas acesas nas mãos, encontrava-se tão aflita que nenhuma vez provou a ambrósia e o néctar suave, e nem o seu corpo se lançou nos banhos.”

“Moroloja” é uma instalação vídeo de 11minutos, inspirada no hino a Demetra de Homero. Mostra uma mulher jovem vestida de preto. Ela está sozinha, sentada numa cadeira dentro de uma casa abandonada (em Nodar).

Ela é Demetra, a deusa do grão e da fertilidade. Ela está a sofrer sozinha, porque perdeu a sua filha. Ela está a viver a experiência do luto. Na sua dor, ela é humana e vulnerável. Depois da imobilidade, começa um ritual de choro e cântico, aquele que evoca os lamentos de luto do Salento, no sul da Puglia, a região Italiana onde a artista nasceu.

Os “Moroloja” são cânticos das “prefiche”, mulheres pagas para se lamentarem durante a vigília do luto da morte de alguém no Salento. Estas mulheres costumavam cantar músicas aflitivas com mímica violenta e frenética, misturada com choros e gritos. Levavam um lenço branco nas mãos que era sacudido e agitado, criando uma espécie de dança rítmica. Nestes cânticos antigos não existiam quaisquer referências ao conceito Cristão da morte e da ressurreição. Depois da morte, existe apenas a dissolução, a noite escura. Nos cânticos, as referências à morte personificada (Thanatos) e ao prenúncio da Fada que determina o destino eram frequentes.

Os “Moroloja” são cânticos improvisados numa estrutura tradicional; as estrofes estão em “griko” (uma língua derivada do Grego ainda falada em algumas aldeias do Salento) e alternam com estrofes no dialecto local. Os “Moroloja” eram improvisados e adaptados de acordo com as circunstâncias, das expectativas da audiência, ao género e grau de parentesco que essas mulheres tinham com a pessoa que estava em maior sofrimento.